Nosso legado de cada dia

Francisco Sacco Teixeira
4 min readApr 30, 2021

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A imagem traz uma frase em inglês que diz “difficults roads often lead to beautiful destinations” em tradução direta “estradas difíceis normalmente levam para lindos destinos”.

Este texto pode até falar sobre sistemas legados, (inclusive deu para fazer algumas metáforas sobre vida pessoal vs profissional), mas o foco não serão essas aplicações antigas, que permanecem até os dias atuais. Este texto, é para falar sobre o legado que cada um, e cada uma de nós vamos deixar, querendo, ou não.

Confesso para vocês que uma das minhas maiores dificuldades é definir objetivos pessoais a longo e médio prazo. Eu penso que muitas vezes a gente acaba sendo refém do mercado de trabalho, e nos moldamos para estar capacitado para ele e não o contrário. O mercado muitas vezes, se não a maioria das vezes, pode ser um grande opressor, e para nós sermos um profissional de renome é importante estar consciente da pressão que existe para ser especialista em todas áreas que um full stack abrange.

Eu penso que por mais que o lucro seja visado, existem práticas muito interessantes que algumas empresas adotam, inclusive a que trabalho. Prática esta que é qualificação de profissionais que nem ao menos entraram no mercado tecnológico ou estão procurando uma recolocação profissional. Além disso promover e incentivar, constantemente, a qualificação deles. Eu entendo que tal prática ainda é pontual, mas que parece ser uma tendência principalmente na área tecnológica. Afinal o crescimento individual de cada colaborador impactará diretamente no crescimento organizacional.

Mas e ai Chico, você começou a falar de legado, depois foi para objetivos. O que uma coisa tem a ver com a outra? Calma, calma, já vou chegar lá.

Quero compartilhar com vocês que eu ainda não tenho, ou não sei exatamente, quais são os meus objetivos, até agora eles ainda não estão muito claros e definidos. Eu não sei qual a próxima tecnologia que vou estudar se vai ser Python no back, React no front ou Vue. Piora ainda mais quando falamos de Cloud. Azure, AWS ou GCP. Rancher ou OpenShift. Gitlab ou Jenkins.

Metaforicamente falando, escolher dentre tantas tecnologias disponíveis no mercado parece ser similar a escolher aquele filme ou série disponível no catálogo da Netflix. Você simplesmente não sabe qual escolher e, fica mais tempo na procura de um filme ou série do que assistindo.

As vezes eu sinto que com a tecnologia é a mesma coisa. Sempre haverá uma tecnologia, mais nova, mais performática, que será o hype da vez. Tenho o sentimento que uma bola de neve, vai crescendo e crescendo, uma vez que não consigo acompanhar todos os trends tecnológicos. O sentimento de frustração aumenta proporcionalmente com a ideia que em algum momento não estarei mais qualificado e me tornarei um profissional legado.

Enquanto escrevo a palavra “legado”, imediatamente penso no futuro. Um futuro onde não necessariamente estarei mais aqui, contudo aquilo que fiz ainda estará por aí, talvez pela perpetuidade. Quando eu penso no legado que quero deixar, eu olho para os meus pais e me inspiro.

Há mais ou menos dois anos, meu pai foi diagnosticado com câncer. Ele já passou por alguns tratamentos, quimio e radioterápicos e por quatro cirurgias. A última, meados de fevereiro, a mais delicada e complexa, cuja recuperação se transcorreu no decorrer de 31 lentos dias de hospitalização, até então no durante o colapso do nosso sistema de saúde. Hoje ele está em casa, muito bem para as condições dele e continua a sua recuperação por lá.

O mês de fevereiro e março foi um dos períodos mais difíceis da minha vida, certamente vivi algum dos dias mais tristes durante este intervalo, porém ao mesmo tempo momentos muitos felizes, principalmente quando os vi chegar em casa.

Eu estou falando sobre isso, porque durante este período, fizemos uma corrente do bem para a recuperação do meu pai. Ele é professor, com mais de 30 anos em sala de aula. Meu irmão e eu lemos algumas dezenas de depoimentos, das mais variadas pessoas que cruzaram o caminho dele, família, amigos, colegas, e muitos alunos e alunas.

Durante a leitura destes depoimentos eu comecei a pensar nesse texto, vendo o legado do meu pai e também da minha mãe. Eu imagino que há 30 anos eles não imaginava que hoje faria diferença na vida de tantas pessoas. Deixam um legado repleto de histórias de superação, resiliência, dignidade e justiça.

Daqui a 30 anos provavelmente a tecnologia que existe hoje não vai se comparar com aquela que está por vir, mas daqui a 30 anos por mais que neste momento não saiba exatamente quais são meus objetivos a curto, médio e longo prazo eu sei de algumas coisas. Eu quero:

  • Gerar impacto social positivo;
  • Ser um profissional renomado;
  • Ser e permanecer uma pessoa justa e coerente com aquilo que serei, estarei e terei.

Se os pontos acima serão o meu legado, eu não sei, mas já são um norte, afinal parafraseando a imagem deste texto:

“Estradas difíceis normalmente levam para lindos destinos.”

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